Nuvem densa de fumaça avança sobre novas regiões do Brasil, provocando alerta ambiental inédito
A pluma de fumaça que encobre o Brasil, embora não seja uma novidade, tem chegado a áreas antes improváveis, como Rio Grande do Sul, São Paulo e sul da Bahia. A análise é da especialista em química da atmosfera do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Karla Longo.
De acordo com medições de satélites, o país ficou, em média, 60% coberto por fumaça nos meses de agosto e setembro, chegando a 80% em alguns dias desta semana. A seca intensa contribuiu para a propagação da nuvem poluente, que é comum nas regiões Norte e Centro-Oeste, mas agora se espalha por todo o território.
“O calor intenso deste inverno fez com que a pluma passasse com mais frequência e intensidade pelas regiões Sudeste e Sul, além de Goiás, Minas Gerais e até o sul da Bahia”, afirma Longo. A pesquisadora adverte que, com o aumento das temperaturas e a continuidade da seca, é provável que o Brasil enfrente mais dias encobertos pela fumaça.
Na quinta-feira (26), a nuvem de fumaça se conectou aos corredores de umidade da Amazônia, provocando instabilidades na atmosfera que se estenderam do sul do Brasil até o noroeste do Amazonas. Essas condições geraram chuvas isoladas, que podem persistir nos próximos dias. Longo também alerta para o risco de “chuva preta”, resultado da mistura da água com a fuligem.
“Para queimar, são necessários dois fatores: ignição e propagação. No Brasil, a ignição é humana, e prever seu comportamento é complicado. A região central ainda ficará seca por pelo menos mais um mês”, explica a especialista. Mesmo que houvesse uma interrupção nas queimadas, a fumaça ainda permaneceria na atmosfera por cerca de uma semana.
A pluma de fumaça deste ano está mais intensa devido ao sistema de Alta Subtropical do Atlântico Sul (Asas), que cria uma área de alta pressão, impedindo a formação de nuvens e elevando as temperaturas. Os efeitos do Asas foram mais acentuados este ano, resultando em temperaturas acima da média e menos chuvas.
Além da fumaça visível, gases poluentes invisíveis, como monóxido de carbono e dióxido de carbono (CO2), também estão presentes. Esses poluentes podem permanecer na atmosfera por meses ou até anos.
Embora a situação no Sudeste deva melhorar até o final do mês, a Amazônia não verá alívio em breve, com estiagem prevista até outubro.