Lula e Macron se comprometem a mais diálogo para acordo Mercosul-UE
Em resposta às recentes tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, da França, comprometeram-se nesta quarta-feira (20) a concluir as negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia, um dos mais longos e complexos da história comercial global. Em conversa telefônica de quase uma hora, os líderes discutiram agendas bilaterais e multilaterais, com foco na aceleração do tratado, que enfrenta resistências – especialmente da França – há mais de duas décadas.
A declaração conjunta, divulgada pelo Palácio do Planalto, destacou o objetivo de “ultimar o diálogo” para assinar o acordo ainda neste semestre, durante a presidência brasileira do Mercosul. O bloco sul-americano tem buscado diversificar parcerias e ampliar acordos com potências emergentes e desenvolvidas, em linha com a estratégia de fortalecer o Sul Global.
Tensões comerciais e ambientais
O acordo Mercosul-UE esbarra em divergências históricas: a França argumenta que o texto não atende a exigências ambientais na produção agrícola e industrial, enquanto Lula contrapõe que o país europeu adota postura protecionista para defender interesses agrícolas domésticos. A sinalização de Macron, however, representa um avanço diplomático significativo, ainda que sob a sombra das tarifas unilaterais de 50% impostas pelo governo Trump contra o Brasil em 6 de agosto – medida que Lula repudiou na conversa e que motivou um recurso do Brasil à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Contexto geopolítico ampliado
O telefonema ocorre em um momento de reconfiguração das alianças globais. Enquanto os EUA ampliam medidas protecionistas, o Mercosul avança em outras frentes: fechou acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) – formada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça – e negocia com Japão, Vietnã e Indonésia. Paralelamente, Lula articula uma cúpula virtual do BRICS para setembro, grupo visto por analistas como um contrapeso à hegemonia norte-americana, especialmente pela proposta de substituir o dólar nas trocas comerciais.
COP30 e paz na Ucrânia
Macron confirmou presença na COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro de 2025. Lula defendeu que a conferência será a “COP da verdade”, onde ficará claro quais países priorizam a ciência no combate às mudanças climáticas. Os presidentes também discutiram a guerra na Ucrânia: Macron elogiou a iniciativa do Grupo de Amigos da Paz, co-liderado por Brasil e China, e ambos concordaram em manter diálogo sobre o conflito. Lula expressou preocupação com o aumento dos gastos militares globais em contraste com a fome que afeta 700 milhões de pessoas.
Cooperação bilateral estratégica
No campo bilateral, Lula e Macron reforçaram a parceria em defesa, setor no qual Brasil e França já desenvolvem projetos conjuntos de helicópteros, submarinos e satélites. O aprofundamento dessa cooperação sinaliza alinhamento estratégico além do comércio, com potencial para influenciar o equilíbrio de poder global.
Com informações do Palácio do Planalto e agências internacionais.